Blog da Chris

Não realização de cirurgias ginecológicas em Mossoró pelo SUS preocupa médica.

Mariana Conrado num clique exclusivo para a entrevista “Vitrine” do Blog da Chris com o fotógrafo Paulo Eduardo. 

Como anunciamos em nossa Coluna da Chris deste domingo, 08, a entrevistada de hoje, no nosso quadro Vitrine é Mariana Conrado, médica formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e residente em ginecologia e obstetrícia pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).

Além de linda e muito atenciosa, Mariana é uma profissional preparada, dedicada e preocupada com o futuro do sistema público de saúde, principalmente de nossa cidade.

Numa entrevista muito importante e super interessante, Mari (como é chamada por muitos) nos fala sobre sua paixão e escolha pela Medicina; nos traz dados e estatísticas importantes sobre as doenças sexualmente transmissíveis; fala um pouco sobre o tão polêmico (para alguns) parto humanizado e sua opinião sobre o mesmo; e ainda nos fala um pouco sobre a Mariana mulher.  

Vamos à leitura.  

1- Quando e como optou pela Medicina?

MC- Sem nenhuma demagogia, diria que a Medicina me escolheu. Não era meu sonho de infância pensar na profissão que eu seguiria não me tirou nenhuma noite de sono na adolescência. Um certo dia, no pré-vestibular, me perguntaram e eu respondi um tanto levada pelo que a maioria dissera.

Depois disso, mergulhei no mundo da preparação para as provas e após 3 anos lá estava eu, nos bancos da UFRN, graças a Deus. Ao longo do curso fui descobrindo habilidades, afinidades e, principalmente, percebendo que eu podia aplicar minhas crenças e minha forma de “ver o mundo” no cotidiano da minha profissão.

Sou apaixonada pela experiência de “passar” pela vida das pessoas deixando algum tipo de contribuição para elas e eu diria até para o futuro, nesse aspecto a Medicina me realiza completamente.

2 – Por que Ginecologia e Obstetrícia?

MC- Eu tive três paixões durante a minha graduação, a primeira é a Medicina de Família e Comunidade pela capacidade de estar inserida no contexto pleno do paciente enquanto pessoa. A segunda é a pediatria. Crianças são seres que naturalmente nos despertam para o cuidado. A terceira, a Obstetrícia pela maravilha da natureza que é a mulher gerando uma vida. Some-se a isso o fato de eu ter optado por viver a maternidade ainda durante a faculdade, o que certamente me fez ver a gestante com olhos de quem “sabe pelo que ela está passando” e, assim, melhorar o meu cuidado.  (Meu Miguel nasceu em 2012 quando eu cursava o 5º ano).

Em 2014 me mudei para Mossoró, onde já há alguns anos residia e trabalhava o meu marido. Nesse momento iniciava a Residência Médica de Ginecologia e Obstetrícia da UERN, um projeto audacioso e extremamente importante no contexto da qualificação dos serviços de saúde locais. Fiz as provas, obtive êxito e é com muito orgulho que componho a primeira turma de residentes desse programa. Concluo essa jornada que totaliza 3 anos em Junho de 2018. Tenho absoluta consciência do impacto e dos benefícios dele não só para a qualificação de médicos, mas para a população mossoroense em geral que se beneficia dos serviços prestados.

3 – Ultimamente tem se falado muito em parto humanizado. O que significa essa Humanização? Tanto o parto normal quanto o cesariano podem ser humanizados?

MC- A humanização do parto está focada no respeito às escolhas da mulher, no direito a um atendimento digno, respeitoso e sem qualquer tipo de violência física ou psicológica.

Os princípios básicos preveem assistência centrada na mulher e na família, acesso e acolhimento, fortalecimento e participação da mulher na tomada de decisões, proteção e promoção da gravidez e parto como processos saudáveis e fisiológicos, uso apropriado da tecnologia, trabalho integrado em equipe multiprofissional e, por fim, práticas baseadas em evidências científicas.

Portanto, em qualquer que seja a via de parto escolhida ou necessária, podem ser respeitados todos esses princípios. Vale lembrar que vivemos um momento de distorções e sensacionalismos acerca das vias de parto e para que tenhamos o maior número de desfechos favoráveis precisamos nos utilizar da educação em saúde.

Pacientes informadas e conscientes, que conheçam o processo natural e fisiológico pelo qual estão passando, bem como a realidade do sistema de saúde no qual estão inseridas, têm mais autonomia e segurança para viver esse momento da Maternidade.     

4- Segundo as estatísticas, cada vez mais os jovens estão fazendo sexo de forma desprotegida, o que tem aumentado e muito as ocorrências de doenças sexualmente transmissíveis. Quais os perigos envolvidos nessa estatística? Alguma merece destaque no cenário atual?

MC- No grande grupo que compõe as DSTs, encontraremos os mais variados espectros de impacto na saúde da pessoa que por ventura venha a adquirir alguma delas. O que devemos sempre lembrar, como o faz a preceptora e coordenadora do meu serviço de residência a Dra Isabelle F. Cantídio, é que “as DSTs andam sempre de mãos dadas”. Todo aquele indivíduo, que tenha relações sexuais desprotegidas, está sujeito a adquirir uma ou até mais de uma doença, portanto o perigo antes de tudo está na “exposição”. Nesse momento, volto a falar em educação em saúde como a única maneira de conscientizar a população acerca dos danos individuais e coletivos das DST’s.

Um grande avanço na prevenção em saúde e que merece destaque foi o advento das vacinas contra o HPV. Uma delas é a Quadrivalente, ou seja, previne contra os tipos 16 e 18, presentes em 70% dos casos de câncer de colo do útero e contra os tipos 6 e 11, presentes em 90% dos casos de verrugas genitais, sendo esta a vacina fornecida pelo Ministério da Saúde (MS). A outra é específica para os subtipos 16 e 18. De acordo com o Ministério da Saúde (MS), a vacina Quadrivalente protege em até 98,8% contra os quatro subtipos do HPV citados.

É imprescindível reforçar que a vacina não substitui a necessidade de exames ginecológicos preventivos e o uso de camisinha durante a relação sexual. Segundo o calendário de vacinação do MS de 2017 a vacina Quadrivalente deve ser fornecida gratuitamente para meninas de até 14 anos e meninos de 12 e 13 anos no esquema de duas doses (0 e 6 meses), bem como para homens e mulheres de 9 a 26 anos vivendo com HIV/Aids, transplantados de órgãos sólidos ou de medula óssea e pacientes oncológicos.

Os meninos passam a ser incluídos visando prevenir os cânceres de pênis, ânus, garganta e verrugas genitais, assim como reduzir a incidência do câncer de colo de útero e vulva nas mulheres, já que os homens são responsáveis pela transmissão do vírus para suas parceiras. Na rede privada, os dois tipos de vacinas também são disponibilizadas para homens e mulheres de todas as faixas etárias. Esperasse que em 2018 chegue ao mercado brasileiro a vacina nonavalente, que prevenirá contra 09 subtipos de vírus do HPV. O benefício da vacinação já é bem estabelecido inclusive para pessoas sabidamente infectadas pelo vírus HPV.

(http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2017/marco/03/Novo-calendario-vacinal-de-2017.pdf)

5 – Nesse tempo de exercício de sua profissão, embora atuando em área específica, qual a sua avaliação da saúde do município, de forma geral. O que está bom e o que precisa melhorar? 

MC- O Sistema Único de Saúde como um todo vive um momento delicado no cenário nacional e não é diferente a nível de estados e municípios. Há carência de insumos, de estrutura, de recursos humanos, de qualificação, mas, ao meu ver, o cerne do problema está no fator ‘gestão’. Com todas essas dificuldades não podemos deixar de considerar que mesmo nesse cenário, muito tem sido feito pela saúde da população.

Especificamente na minha área de atuação, o que me preocupa em relação a Mossoró é que já há algum tempo não estão sendo realizadas cirurgias ginecológicas pelo SUS (histerectomias, miomectomias, laqueaduras tubárias, por exemplo), o que tem resultado em uma fila de pacientes nas mais diversas condições de necessidade e sem perspectiva de resolução.     

6- Fale-nos da importância para nós mulheres de se fazer exames de rastreio como mamografia e o Papanicolau e qual sua periodicidade.

MC- Os exames de rastreio, como estes citados, são uma forma de prevenção secundária que estimulam o desenvolvimento de uma rotina de cuidado com a saúde do indivíduo ou da população. A importância se dá no fato de que essas ações visam detectar um problema de saúde em estágio inicial, facilitando o diagnóstico definitivo, o tratamento com a finalidade de reduzir ou prevenir sua disseminação e os efeitos de longo prazo. São ainda mais eficientes quando associados às medidas de prevenção primária que devem promover saúde por meio da informação e redução dos fatores de risco para desenvolver doenças, como tabagismo, por exemplo.

No Brasil, conforme revisão publicada em 2015 pelo Ministério da Saúde/INCA , a mamografia (MMG) é o método preconizado para rastreamento com eficácia comprovada na redução da mortalidade do câncer de mama, sendo recomendada para as mulheres de 50 a 69 anos a cada dois anos. A Sociedade Brasileira de Mastologia, por sua vez, recomenda que a mamografia seja realizada anualmente a partir dos 40 anos e nos casos de doença na família essa idade pode ser antecipada (conduta avaliada individualmente).

Com relação ao Exame Preventivo ou Papanicolau (Exame Citopatológico), o MS em publicação de 2016 recomenda o rastreio do câncer do colo do útero e de suas lesões precursoras para mulheres entre 25 e 64 anos que tenham atividade sexual. Os dois primeiros exames devem ser realizados com intervalo anual e, se ambos os resultados forem negativos, os próximos devem ser realizados a cada 3 anos. Para mulheres que apresentem alterações nos resultados dos seus exames as condutas seguem diretrizes individualizadas para cada grupo.

•           Diretrizes para a detecção precoce do câncer de mama no Brasil/ Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva – Rio de Janeiro: INCA, 2015.

•           www.sbmastologia.com.br

•           Diretrizes brasileiras para o rastreamento do câncer do colo do útero / Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Divisão de Detecção Precoce e Apoio à Organização de Rede. – 2. ed. rev. atual. – Rio de Janeiro: INCA, 2016.

•           Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Rastreamento / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – 1. ed., 1. reimpr. – Brasília : Ministério da Saúde, 2013.

7 – Ultimamente, vimos que você participou de um ensaio fotográfico para uma marca de moda praia da cidade. O que achou dessa experiência como “modelo”?  

MC- Foi uma experiência muito bacana! As redes sociais nos aproximaram muito do mundo da fotografia, eu especialmente a tenho como uma de minhas paixões (registre-se, completamente amadora…rs!). A campanha reuniu um grupo de mulheres da cidade, cheias de personalidade e características admiráveis, mães de família, profissionais dedicadas. Foi um dia alegre e cheio de experiências divididas que ficou registrado em belas fotos e estreitou laços de amizade.

8- O que você gosta de fazer em seus momentos de folga?

MC- Tenho uma personalidade muito inquieta e curiosa, por isso acabei aprendendo algumas habilidades ao longo da vida. As atividades manuais me encantam sobremaneira, gosto de ter a capacidade fazer algo com minhas próprias mãos. No momento o que mais me dá prazer é estar no meu atelier com minhas costuras e bordados, muito embora o tempo seja sempre menor do que eu gostaria. Depois do nascimento da minha Marcela (2 anos) quase tudo que costuro é para ela, o pouco que sobra fica para mim ou para coisas da casa. 

9- como se define Mariana mãe e profissional?

MC- De uma única forma: como alguém que oferece tudo de melhor que tem e busca contemplar o máximo de momentos possíveis, embora siga na certeza que ainda há muito o que aprender e fazer durante a caminhada. Para todos nós que nos dividimos entre ser mulher, mãe, esposa e profissional, sempre vai existir aquela sensação de que poderíamos fazer melhor alguma coisa. O que me conforta é sempre saber que naquele momento estou sendo o melhor que posso e que não me falta disposição para melhorar sempre.

10- Mariana ainda tem algum sonho a realizar?

MC- E quem não os tem? Eu tenho muitos, apesar disso prezo para estar sempre com os pés bem firmes no presente, que é onde construímos cada sonho que um dia é alcançado no cumprir de cada meta.

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